Ricardo Piglia,
escritor, autor, roteirista. Publicou "Respiração Artificial", "Dinheiro Queimado", entre outras obras.
Em 29 de novembro de 1998, na Folha de S. Paulo, escreveu sobre Hector Babenco, de forma objetiva e esclarecedora.
Iniciou fazendo referência a Babenco e a Francis Ford Coppola, que partiram para grandes empreendimentos, correndo o risco de grandes prejuízos. Babenco com "Brincando nos Campos do Senhor" e Coppola com "Apocalipse Now". Ambos foram levados a colapsos, com riscos para a saúde.
Babenco conversou com Piglia sobre o bar, em Mar Del Plata, na Argentina, de nome "Ambos Mundos". Era um ponto de encontro de jovens aspirantes a artistas. Alguns sairam dali para a capital, Paris ou Nova York. Era uma época de mudanças e criatividade em que os jovens sonhavam. Segundo Piglia,Babenco tinha seu projeto artístico pessoal que parecia difícil, mas não impossível, algo que exigia talento, decisão, espírito de sacrifício e também, claro, muita sorte. Babenco, que reúne todas essas qualidades, foi um dos primeiros a transformar essa ilusão em realidade. Aos 18 anos lançou-se ao mundo.
"Tenho a impressão que existe uma relação íntima entre o cinema de Babenco e esses obscuros anos de buscas e incertezas. (...)
Babenco sempre conta a história de um personagem que está no limite, dividido entre dois mundos, à margem da lei, na fronteira da sociedade. Lúcio Flávio, Luis A. Molina(em "O Beijo da Mulher Aranha"), Francis Phelman (em "Ironweed"), Lewis Moon (em "Brincando") são reencarnações de uma figura que reaparece e persiste, com variantes em todos os seus filmes. O heroi não tem lar, é um náufrago que perdeu tudo, um perseguido que tenta escapar (em certo sentido, todos os seus filmes contam uma fuga frustrada).
A história parte de um núcleo em que prevalece a denúncia (dos esquadrões da morte, dos meninos de rua, da discriminação sexual e do terror político, da devastação da natureza, da barbárie da civilização, do mundo dos sem-teto), mas o conflito se localiza na consciência do heroi."
Como dizia Maurice Legeard, que trouxe Babenco a Santos nos anos 70, no SESC, o artista deve dar o testemunho de seu tempo. Babenco nos deixou a melhor impressão possível, principalmente como um cineasta do mundo, como Glauber, que também saltava fronteiras.
quinta-feira, 5 de agosto de 2010
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